16 junho, 2006

Transporte de grávidas...



Bombeiros não sabem como será feito transporte de grávidas

Alexandra Campos e Catarina Gomes

Ministro garante que a rede estará pronta até 30 de Junho, mas as corporações dizem não ter recebido qualquer orientaçãoO ministro da Saúde, Correia de Campos, garantiu ontem na Assembleia da República que é possível ter a rede de transportes para grávidas pronta até 30 de Junho, data até à qual deverão encerrar três maternidades. Mas as corporações de bombeiros contactadas pelo PÚBLICO afirmam desconhecer os preparativos em curso e a Ordem dos Enfermeiros (OF) diz que o transporte de grávidas de risco já se faz "sem condições".O grupo de peritos da Comissão Nacional de Saúde Materna e Neonatal admite, no documento de Março em que aconselhou o encerramento faseado de 11 maternidades, que "o transporte da grávida não está organizado". Correia de Campos disse ontem que o assunto está a ser estudado, mas escusou-se a prestar esclarecimentos."Qualquer que seja a zona do país, as ambulâncias que fazem neste momento a transferência de grávidas entre hospitais - quando há situações de risco - já não têm condições", defende Lúcia Leite, presidente da comissão da especialidade de Enfermagem de Saúde Materna e Obstétrica da OF.Os peritos da comissão defenderam que este transporte exige "acompanhamento de enfermeiro especialista em saúde materna e obstetrícia para distâncias superiores a 20 quilómetros ou mais de 30 minutos". O que pode um enfermeiro especialista fazer numa ambulância em caso de problemas?, pergunta Lúcia Leite. "A maior parte do transporte normal das corporações de bombeiros não tem condições. Já existe esta situação de risco. Já hoje não há transporte em segurança", reitera.A responsável da OF nota que, "quando há agravamento do estado de saúde da mulher" ou "ameaça de trabalho de parto prematuro", o bebé e a mãe "precisam de monitorização e as ambulâncias não têm condições para o fazer com segurança, mesmo com enfermeiro".Bombeiros sem informaçõesHá dois meses que o presidente da Liga dos Bombeiros Portugueses, Duarte Caldeira, aguarda que o Ministério da Saúde responda aos vários pedidos de informação que lhe enviou. Queria esclarecer que tipo de implicações poderiam decorrer para as corporações da anunciada concentração de blocos de parto. Há "uma completa falta de informação sobre esta matéria", lamenta, o que é tanto mais estranho quanto se sabe que não pode prescindir da rede dos bombeiros - a maior parte das "245 ambulâncias" do Instituto Nacional de Emergência Médica (INEM) está parqueada em corporações de bombeiros e é tripulada por bombeiros. "Ninguém sabe como é que a situação vai ser organizada. Está instalada a confusão", nota. As corporações de bombeiros da zona de Barcelos e de Elvas, onde vão ser encerradas duas das maternidades, não receberam qualquer informação sobre a forma como vão ser transportadas as grávidas.António Moreira, segundo-comandante dos Bombeiros Voluntários de Barcelos, corporação onde está parqueada uma ambulância do INEM e que cobre 37 freguesias, garante que os bombeiros estão preparados, mas lamenta que, agora, que falta pouco mais de um mês para o encerramento do bloco de partos, ainda ninguém lhes tenha fornecido qualquer tipo de informação. Também o comandante dos Voluntários de Barcelinhos (cobre 38 freguesias), Licínio Santos, diz que não tem qualquer tipo de informação sobre esta matéria. "Não sabemos como vai ser, quem vai fazer, em que circunstâncias. Não temos informações", sintetiza. Mas tanto António Moreira como Licínio Santos desdramatizam a situação. Dizem que não se lembram de, nos últimos anos, ter havido partos em ambulâncias. "Não sabemos absolutamente nada de preparativos", diz José Dores, director executivo da Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários de Elvas. Admite que as três ambulâncias e os tripulantes são suficientes, mas afirma que nenhum deles teve, até agora, que fazer um parto. "Têm apenas a formação teórica."Assim que as medidas tiverem sido decididas, as corporações de bombeiros serão informadas, garante o assessor de imprensa do Ministério da Saúde, Miguel Vieira. Afirma que não serão precisas grandes mudanças, mas sim eventuais reforços de meios.Público 18 Maio 2006
catarina gomes, in Blogs.Público.pt, 5/18/2006

Sem comentários: